domingo, 23 de março de 2008

A Rapariga Que Pediu de Empréstimo a Beleza


Querido Umbigo:


"Uma Rapariga começa a ter uma vida difícil muito cedo. Sobretudo quando tudo dura pouco tempo. Sem protecção do pai, dos anjos ou de Deus, ninguém sabe o que se pode, não se pode nada. Por isso com a alma aflita, uma rapariga
procura sentimentos recíprocos em muitos sítios onde não devia, em que já sabe que não vai encontrar nada de jeito, porque os vícios colam-se às pessoas quaisquer que elas sejam, más ou boas. E depois é tarde e uma rapariga é um ser volátil que se queima.
(...)
Isso faz sofrer muito. E nem todas as maneiras são boas para esquecer o que faz sofrer. Por isso ria muito e saía muito e deitava-se muito tarde. Às vezes quase com quem calhava, porque também não importava muito. Mas quase sempre sozinha com um urso de peluche.
É horrível saber que se pode ter este rapaz e aquele e todos este senhores tão ricos e bem vestidos e perfumados e não haver nada que se queira fazer com eles a não ser matar o tempo.
(...)
Quando ainda se acredita que no mundo há coisas preciosas, cada vez mais preciosas porque cada vez mais raras e difíceis de encontrar quanto mais de viver.
(....)
Eu dizia-lhe que gostava muito dela. Ela dizia que me adorava. Nenhum de nós acreditava. Queríamos muito acreditar e não conseguíamos. Fazia doer."

Pedro Paixão

5 comentários:

Silvares disse...

Mmmmmh, literatura é literatura, a vida é outra coisa... e aquele cachimbo? Pedro (nem de propósito) Paixão. Lol.

MoiMêMê disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MoiMêMê disse...

Pois é amigo Rui, mas a literatura ajuda-me muito, muito a passar a vida, não quer isto dizer que eu seja uma rapariga extremamente bela, ou bela como a da fotografia (googlei as imagens do google com esta chave "rapariga bela", de todas esta foi a que eu gostei mais), ou que fume cachimbo, ou que sinta tudo o que este Paixão escreveu, mas agora há coisas que neste texto que eu esquartejei para se moldar à minha forma, que parecem ter sido escritas para mim, ou por mim, ou a pensar em mim...

Silvares disse...

Mas era exactamente isso que eu queria dizer, miguinha, na vida esquartejamos a literatura e usamos os bocadinhos que sobram de acordo com as nossas necessidades. Sendo coisas diferentes nada impede que se cruzem num determinado patamar da realidade. Aliás só a falta de sensibilidade poderá impedir esse cruzamento. Acho que isso tem a ver com o facto de os escritores serem pessoas como nós... pelo menos por enquanto... ainda são, não são?
:-)

MoiMêMê disse...

Também acho que são, com tudo o de bom e de mau que isso implica :)